Corrida contra o Calendário
Abro os olhos e é sexta novamente
Dessa vez, tenho certeza de que serei atropelada pelo calendário
Quando passou a letargia das férias de verão
Janeiro já cruzara a linha de chegada
E acho que foi Fevereiro aquilo que me ultrapassou na última curva
Tantos sonhos
Tantos planos
Tanto potencial de grandeza
E as frivolidades da vida continuam a me atropelar
Posso ser quem eu quiser quando crescer
E escolhi assistir TV
Posso ir para onde quiser
E escolhi o mundo de travesseiros e cobertores
Tenho a mente afiada e todas as possibilidades do mundo
E preciso fugir, me inebriar
O calendário não se importa com meus dramas
Continua enviando seus corredores
Que vão vencer, como fazem todo ano
Março está chegando perto, daqui a pouco avisto Abril
Já estou ficando sem fôlego
E a maratona mal começou
Não vai demorar para esfriar
E não tenho para onde fugir
Há tantos corredores alinhados
Me pergunto se têm planos também
Alguns saem em disparada, outros rapidamente sucumbem
Me pergunto pela milésima vez se vale a pena a chegada
Todo ano chego cansada e em último, e não vejo nada de mais
Todo ano prometo fazer melhor
E sou atropelada outra vez
Olhe lá! Deve ser Junho!
Com Julho logo atrás
Queria que ainda fosse verão
Mas no fim é só outra desculpa
O corpo começa a ficar mole
É o peso da corrida cobrando seu preço
Mas os novos corredores não parecem se importar
Num instante, vejo Agosto tão faceiro
Seguido de perto pelo florido Setembro
Alguma divindade bondosa me sopra novo fôlego
Mas ainda estou tão longe da chegada
Sou ultrapassada por Outubro
E nem parece importar mais
Logo logo virá Novembro
E um segundo depois verei as luzes de Natal
Dezembro chegou e passou e agora vejo a linha de chegada
Foi tudo tão rápido que nem vi Maio
Terminei a corrida, mas fui de novo atropelada
Prometo que farei melhor na próxima!