cenário sete

Cenário sete

Volto aos meus medos:

Na rua onde morávamos

A rua cheirou a pixe do asfalto

Se fazendo, o cheiro duro

Entrando pelos cabelos,

O progresso passava

Pela rua onde morava

Da rua onde morava...

Onde morava tanta gente

Que apedrejava o que eu queria

Fosse verdade...

Eu quereria mesmo era não morar

Nessa rua cheirando pixe,

De onde moía café, buscava leite

Em balde, roubava mamão maduro

E nadava... Na água suja do tanque,

Jogar bola no campinho da paineira

Levava tiros de sal nos costados...

Ir à escola cortar as unhas

É o que me lembra

Das aulas...

Sergiodonadio.blogspot.com

Editoras: Saraiva,Perse, Incógnita Portugal

Clube de Autores, Amazon Kindle.

Cenário oito

Na rua onde eu morava

Moravam também tininho,

Caziano, caçula e o cão duque...

Tanto cachorro morando,

Poeira, barro, carroças,

Deztões para a matinê,

Do cofrinho das economias,

Economia sincera, desacreditada,

Aniversário com sarampo

Eu quieto no quarto

Ouvindo outros cantarem

A briga de travesseiros,

Cobertores para o durango kid,

Graxa pros rolimãs

Para a corrida no asfalto novo,

Antes da inauguração

Fizemos o primeiro trajeto

Sem cheiro de pixe ardido

Nas narinas e na língua

Da gente da rua onde

Morava...

Cenário nove

Na rua onde eu morava

Morava gente miúda...

Crianças para mais não querer,

De noite contar estrelas,

Desenhar nas nuvens

Cavalos voadores, elefantes

Se desfazendo ao vento,

Catar pedras de gelo

Na chuva desastrosa...

De medo se foram todos,

Crescidos e maltratados,

Casados ou descasados,

Lembrar o sete de setembro,

Direita batendo, direita batendo,

direita batendo, sempre a direita

Batendo mais forte, os pés ardendo,

A testa ardendo ao sol de setembro,

Ao sol da independência,

Fanfarra e muita farra,

Acerta o passo!

Por medo assim acertando...

Uniformizado

No azul e branco.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 24/02/2016
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