A CIGARRA, A FORMIGA, O ZANGÃO E O PIRILAMPO
Amei encontrar hoje,
após hibernal ausência,
Terezinha sentada na torre
do meu castelo de paciência.
- Zezinho, demoraste!... por que?
não sabias que venho ao por-do-sol
da última semana do lazer
temperar a nova pele pro arrebol?
- Sucedeu, Terezinha,
tão grande e tamanha desdita,
que ao falar a voz definha,
ao lembrar o pelo eriça.
Foi na terceira lua nova,
depois de delirante canto,
que Aninha pôs à prova
o amor de um pirilampo.
Saíram noite afora
apaixonados num límpido trinar,
enamorados num fulgurante brilhar.
Esqueceram-se da hora!...
Com o espinheiro em alarido
o dia seguinte amanheceu.
Inquiri, responderam: de canto incontido
Aninha adoeceu.
Chá de botão de laranjeira,
canela com limão picado,
entra e sai de rezadeira,
o pirilampo desolado.
Sabendo ser de sorte,
o besouro seresteiro
foi buscar seu camafeu,
num recurso derradeiro.
Inútil. Aninha morreu.
- Felizes somos nós, querido zangão,
que cantamos feio e forte.
Isso é pouco?... não,
trabalhamos. Eis a nossa sorte.