Sonhos
Eu não quero mais dormir
Vencido pelo cansaço
Isso faço
Toda noite em minha cama
Quero dormir embalado
Pelo opus 9, noturno
De um Chopin tocando na varanda
E deixar meu coração seguir ciranda
Suave como os dedos no teclado
Quero entrar num sono leve
E que o sonho leve
Todos os meus pesos noite adentro
E os deixe em algum lugar
Que não encontro
Não quero nem pensar no amanhã cedo
Medo, fique alheio ao meu lençol
Quero repousar no travesseiro
E ao apagar das luzes ser farol
Ser o que quiser o meu desejo
Voar da cama, dar a volta ao mundo
De olhos fechados, ver o que não vejo
Surpreso
Com o tempo que demora um segundo
Quero mergulhar na maravilha
De um mundo sem cadeias, surreal
Além desse colchão em que se esconde a ervilha
Semente desse incômodo brutal
Quero soltar a âncora da vida
E desprezar o nexo causal
E quem sabe livres da armadilha
Da escura realidade que nos cerca
Não nos encontremos nesse plano
Sem planos
E sem a obrigação de uma hora certa
Que o sonho a si se baste
Inconsequente
Do sonhador que ora desperta