O hímen de que tanto fui atrás
Meu tempo se esbalda na sua alforria
faz estrepolias com minhas meias,
desbanca cada rincão do meu folguedo.
Meu tempo tem cheiro carrancudo,
voz áspera, andar desgarrado como ele só.
Pouco entende das rédeas, dos guizos,
dos feitores, dos juízes.
Sabe apenas descamar meus sonhos,
com sofreguidão de monge,
com honestidade de puta, com arrependimento de Deus.
Seus percalços amordaçam meu suor
feito frio acuado, feito vampiro aposentado.
Sua fralda ainda fede a musgo vencido.
Tempo, queria fazer você se desgrudar do meu chão,
só para poder rir de você até cansar.
Mas seus enferrujados mamilos inertes
dizem não. E como dizem não.
Queria fazer de você minha gangorra de fé,
aquela poça de lama na qual me emporcalharei
feito porco louco pra fugir do abate.
Tempo, ainda tosarei você com meus dentes afiados,
buscando nas suas vísceras algum teco de ar, de gozo,
de luz, de redenção.
Neste tempo fugido de mim vou à cata do que sobrou
do banquete, do que ficou do amor.
Talvez não encontre nenhum ranço de dor,
quem sabe algum fiapo de perdão.
Suas amarras apodreceram e nem me dei conta.
Sua fronha se encardiu de saudade e nem senti.
Seu véu untou toda minha vértebra e ficou nisso.
Hoje não há mais anteparo pra esperar na fila.
Nem, quem sabe, atalho pra dizer chega.
O tempo se escaldou desafinando os medos,
desparafusando o hímen de que tanto fui atrás em vão.
Você está voltando pra ficar.
Voltando pra ser tempo de novo. E nada mais.
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