Primavera (A Beleza e a Dor)

É primavera!

Mas não há flores,

É dona de casa, dona Vera...

Comum, sofre diariamente suas dores.

Queria ter formação,

Mas perdeu chance no sertão.

De onde ela veio,

Trabalhar cedo é tradição.

Primavera, dádiva da natureza!

Vera pobre, cheia de tristeza,

Castigada pela vida dura, seu sorriso é franco.

Sorriso que esconde uma alma em prantos...

As folhas caem no ritmo de suas lágrimas,

Lagrimas de choro e esperança...

Lagrimas de quem sozinha,

Deve cuidar das cinco crianças.

Primavera, traga paz a essa alma sofrida!

Traga a flor da fé, a flor da vida,

Flor para o olfato encantar,

Flor para alegrar seu lar.

Que faça a guerra se afastar,

Vera pobre está cansada,

De ser castiga pela sua cor.

Fé, flor da esperança e amor...

Vera pouco dorme, não pode descansar

deitada em noites frias,

Vera sabe o que é sonhar

Sente saudade dos bons dias

Quando a primavera trazia alegria

Era sinônimo de frutas maduras, direto da mangueira

Hoje o que restou?

Mangas recolhidas no fim de feira.

Assim também vem os legumes e as verduras

Vera faz a mistura, mas essas cores

Se não vem de cima do balcão são nulas

Quando já perderam seus sabores

É tudo que Vera tem: O que sobra é dela,

vegetais podres.

Pois migalhas não são flores

No quilombo chamado favela

Vejo uma Vera onde quer que eu vá,

Presa na rotina, com coração vazio

Hora vejo aqui, hora vejo lá

Batalhando dias a fio

Essas “Veras”, lutam na solidão

E encontram a sua flor

Apenas em cima do próprio caixão

Lucas Lins.

Lucas Lins
Enviado por Lucas Lins em 23/02/2016
Código do texto: T5553134
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