cenários tres e quatro

Cenário três

A voz do piá relembra

Tempos de chibarrada...

Pobre velho, amarelo de vontade,

Dão-lhe arroz em sopinha,

Quase nada...

Tiram sangue para exame,

Pensam estar hepático...

Pobre velho, louco pra comer...

Uma menina, uma quarentona,

A velha paquerando no tricô...

Mas ao medo das pedradas

Esconde suas vontades,

Sente-se miúdo, diminuído

Pela fala alta do rapazola

Que o pensa surdo de vez,

E da menina que cruza as pernas

Na sua frente, sem perceber

Na ânsia que isto lhe dá...

Pobre velho... Deixado ficar

Entre a morte e o abandono

Neste lugar.

Sergiodonadio.blogspot.com

Editoras: Saraiva,Perse, Incógnita Portugal

Clube de Autores, Amazon Kindle.

Cenário quatro

Pobre menina olhando

Os cachorros na calçada da ruela,

Com medo de levar pedrada.

Eu quero, quero que a bala passe,

Fure a parede e me dê uma fresta

Pra respirar esse ar de festa,

Sem fungo ou mofo,

Ou tosse ou pigarro solto...

Eu quero... Quero ser menino de novo,

E ficar vagando os namoros

As pernas de fulaninha,

Moleca de meus afagos,

Ossuda a mais ser

Nossa moleca de afagar...

Quero voltar ao tempo sem pedrada,

Que as pedras do tempo me doem

Nas pernas, nas mãos, na boca,

Até nos ouvidos zunindo, me doem...

As pedradas que levei

Por afagar fulaninha.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 22/02/2016
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