Solitária Sina
Nunca casar,
Nunca amar,
Nunca beijar,
Nunca possuir.
Nunca esperar ela escolher as roupas,
Nunca carregar pelo shopping as compras,
Nunca escolher a cor do quarto do bebê,
Nunca dividir o que tenho para comer,
Nunca acordar na madrugada com choro,
Nunca trocar uma fralda suja,
Nunca me preocupar com traição,
Nunca entregar o meu coração,
Nunca ser perturbado por uma mulher preocupada,
Nunca ter que ir a uma reunião escolar,
Nunca ter que ver comédia romântica,
Nunca precisar escutar alguém falando sem parar,
Nunca ter que dar satisfação a alguém,
Nunca precisar lidar com uma sogra.
Vida perfeita. Vida perfeita? Nunca irei sofrer por alguém.
Vida perfeita. Vida perfeita? Nunca eu terei nos braços alguém.
O celibato forçado,
A melancolia,
O baixa autoestima,
O nunca ser amado.
Eu nasci de maneira,
Extraordinária
E agora preciso
Lidar com a vida
No modo sozinho.
É difícil aceitar
Que eu nunca terei
Alguém para amar,
Alguém por quem sofrerei.
É difícil lidar
Com o triste fato
De que estarei sozinho
Para sempre em meu caminho.
Eu não queria. Eu não quero.
O que eu quero é me casar.
À noite eu me desespero
E me ponho a chorar.
Noites em claro
E dia em escuro.
Eu sou o palhaço,
Eu sou o homem burro.
De que me adiantam
Os versos que traço
Se não anestesiam
As dores que passo?
O que eu queria
Era ser comum,
Um que viveria
Sendo apenas mais um.
Mas não. Algo aconteceu.
E agora, meu Deus,
Estou destinado
A viver desacompanhado.
Posso sair para onde quiser,
Viajar pelo mundo, viver sozinho,
Beijar asiáticas
E africanas,
Beijar americanas,
E europeias,
E muitas oceânicas.
Deleitar-me nos seios
Mais variados,
Centenas, milhares,
Buracos apertados.
Posso ter tudo,
É uma questão de dinheiro,
Posso ter mulheres
Do mundo inteiro.
Ah... mas isso nunca será o que chamo de felicidade.
Não quero beijar
Uma única boca
Que eu não possa beijar
Pela vida toda.
Não quero ter
Um único seio
Que não possa ter
Por toda a minha existência.
Nada me vale
Uma noite que não dure
Pela eternidade
Dos meus anos de vida.
Nada me vale.
Nunca terei.
Nunca pegarei.
Nunca beijarei.
Demorou muito tempo para aceitar,
Ou melhor, está demorando.
Porque para quem sonha em se casar,
Saber que nunca vai é viver chorando.
Tenho só dezoito anos e já fui esmagado
Pela vida real. Este mundo desconcertado.
Tenho só dezoito anos e para mim já era.
Companhia é algo que minha alma não espera.
Então ficarei assim com meus livros e versos
Escrevendo besterias que formarão a minha vida.
Eu vou morrer e serei esquecido
Quando meus alunos também morrerem.
A vida para um homem que nunca vai se casar
É uma vida que não faz sentido algum.
Nunca poderei eu ter um lar. Nunca.
Só uma casa. Tijolo, concreto, mobília.
Uma cama enorme apenas minha.
São apenas mais uns versos das centenas que fiz,
Que são apenas mais umas centenas dos milhões que existem.
Quem ler o que escrevo se esquece disso na chegada da lua
E eu continuo aqui. Sozinho. Carne fresca, nua,
Sozinho. Um nada. Solitário. Solitário.
Solitário.
Solitário.
Descalibrado.
Desusado.
Abandonado.
Desperdiçado.
Um dia eu morrerei
E já nem irei me importar com nada.
Terei sonhado mil vezes com o calor humano
Enquanto me abraçava a um pedaço de pano,
Pelúcias, talvez um gato.
Mas nunca uma mulher.
Pois nunca me casarei.
Nasci para me entregar a apenas uma
E já sei que essa uma eu nunca encontrarei.
Talvez eu deva começar a beber.
Talvez eu deva começar a fumar.
Talvez eu deva começar a transar.
Talvez eu deva começar a gastar.
Talvez eu deva começar a ferir.
Talvez eu deva partir.
Talvez. Talvez.
Não faria diferença alguma.
18/02/2016