1.RECUSA
 
Pode o céu por si não mais que o seu desprezo
Acabar em cura que a secura atenda
Assim que esse azul contra o cinza indefeso
Bem diga a que veio e se por encomenda.
 
Ano hostil aos réus, que ninguém fuja ileso.
Ah, sim, dentre nós quem há que o mal compreenda?
Mas não pode o céu por si negar o peso
Que começa em lágrimas de um mar que o ofenda.
 
2.VIVO!
 
Despido desde a estrela que me expulsa
Errando prazo e preço ao endereço
Incerto, o atraso marca o meu começo
Aqui chegando emblema da repulsa.
 
Escreve o enredo a garra mais convulsa
Eu venho à tona e apenas obedeço
Ao curso da vontade que padeço
Gerando a morte a cada dor que pulsa.
 
3.UMA ESTÁTUA
 
Adentra o cerne em pedra desse instante
Em branco – entrega sem destino, letra sem
Rigor entre clausura e cura como
O quanto resta doutra gesta em dia puro.

4.ESTADO DE COMPOSIÇÃO
 
Fermenta a morte estanque afeita a mosca
Em corpo que a comporte um breve porto
E a cujo gosto vil responda o sumo
Da sorte que a previu bem mais nojenta.
 
Exala o olor do que por custo assumo
Um ranço espesso e gordo que nos sonda,
Um visgo pouco honesto em racha tosca
Por asco do que atesto muito morto.
 
5.MITOLÓGICA
 
O fruto em todo caso ausente à cena
Nem é a maçã que ocorre ao tolo e basta
Por mito à quase ideia mais nefasta
Que o dolo do que mente e ao erro acena.
 
O porre que à razão só faz pequena
E nula a fé ao perdido sempre arrasta
Das vias de se achar em si e desgasta
O senso, já bem falho, não o condena.
 
6.UMA QUESTÃO DE CONTEÚDO
 
Pressuposto da ausência
A morte
Preenche os quartos
Que preferimos vazios.
 
7.A ESTÁTUA DO SUICIDA
 
A chuva relembra outros junhos partindo.
Setembra meus punhos de esperas e musgo,
Mas acho vazio de brilho o destino
Daqueles que rindo,sem rasto, passaram.

8.AULA APÓS AULA
 
Macula o seu papel quando apelando
Induz a torto e a esquerda o parvo juvenil
Na crise da verdade por reprise,
Legado que se aluga aula após aula.
 
As boas intenções por baixo nivelando
O agora das promessas abortadas.
 
Utópico já típico calcula
Gastar saliva e jogar verde ao público,
Comício do começo ao sim bovino –
Aqui não cabe sonho de menino.
 
9.RILKEANA
 
Exceto pelas asas redundantes
A insinuar anunciações renascentistas,
Escapa-me o terrível de seu ser –
Detalhe oculto pela mão do artista,
Talvez, ou só milagre da alma em trânsito.
 
10.ESTIRPE
 
A raça de traças mais sábias que há
Arrasta seus passos pros clássicos, farta-se
(lambida em lombadas, miolos macios)
E furta-se a por entre os dentes Best-sellers –
Questão de princípios gourmet, vai saber...

11.DIALÉTICA DOS DIAS LETAIS
 
O Amor mandou postais do país distante
E a escrita tem sotaque até calando
De motes e motivos, de onde ou quando –
Razão não paga bem seu informante.
 
Que Angústia traga a noite preocupante
Aos vivos desafiando em tese o bando
De sombras que essas horas navegando
Retornam feito ideia fixa e amante.




 
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 16/02/2016
Reeditado em 15/03/2016
Código do texto: T5545077
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