Poeteta
O poeta escreve aquilo que ele sente,
E se escreve bem, ele fica orgulhoso,
O poeta, tolo poeta, palhaço a sua mente,
Faz dança sensual, tem o lápis mais gostoso,
O poeta, tolo poeta, só ele sabe o que sente,
E o leitor admira palavras de jeito pomposo.
Ah, que orgulho, até eu sou um poeta,
Regente do lirismo e da palavra o esteta.
Leiam-me e façam as bocas que quiserem,
Eu estou nas palavras em que me encontrarem.,
Brada o não poeta que é poeta no brado mais pateta,
Não sabe o poeta despoeta da verdade,
Que a poesia é suja e recheada de maldade.
Ah, depressão, tristeza, a solidão,
Escrevendo por horas buscando a sua rima.
Um poeta de verdade não abre o coração,
Mas tenta superá-lo, e falha, se desestima.
No ato da vergonha por um pouco de ar
Ele passa a gritar o que sente sem parar.
Não inspira, se odeia, maldito tempo para escrever,
Queria eram os braços daquela dama que jamais poderá ter.
A todos os poetas, escritores, sofredores,
Minhas sinceras condolências, pois aplaudem seus horrores.
Deus e o mundo dirá a seu poema: Que belo!
Todos menos ela. Logo ela. A rainha de seu desego.
Calma, calma, eu sei dos poetas felizes,
Já ouvi histórias de vocês, safados e meretrizes,
E também de vocês que acharam o amor.
Acontece que eu sou invejoso. Sim, eu o sou.
Pois pequei como vocês e o destino não me perdoou.
Já provei, sim, da doce luz cegante,
Que inspirou-me a escrever o que eu escrevera antes,
Mas foi-se o a do amor e o mor moroso virou dor,
Agora resta-me o piche da poesia.
O detrito, o crack, a intoxicante gasolina.
Então saiam, beijem, e deixem-me resmungar...
Sim, resmungar. É o que o poeta faz,
Um resmungão sem dignidade, um frouxo sensível.
O homem insensível é o homem que tem paz,
Só o poeta sabe disso, e lidar parece impossível.
O poeta de verdade nunca vai ficar apenas triste,
Ele vai cair no posso da mais densa escuridão,
Tornar vítima do voodoo o próprio coração,
O poeta triste tem mil lâminas em seu peito,
A mente nas alturas e a alma no medo.
Com a pena na mão, bobo digno de pena.
Tentamos numa vã luta tornarmo-nos especiais,
"Ser poeta é ser nobre, a poesia é uma Arte",
Mas qualquer um pode fazer poesias legais,
E nós sabemos da verdade: não temos nada de mais.
Arte é qualquer coisa, Monalisa e sucata,
Romance e conto de fada, massinha e estátua.
Nós somos apenas trouxas que pensam ser sábios,
Filósofos maconheiros que nem precisam de maconha.
Fracassados apaixonados desesperados desamparados.
Se um dia por acaso a poesia do poeta morrer,
Ninguém sentirá falta, apenas o outro poeta.
E se tem um jeito de saber que uma arte é furada,
É quando seus únicos apreciadores são outros a praticá-la.
O mundo, ó mundo, sádico ele nos faz sofrer,
Tentamos ser diferentes, "minha alma não é quieta",
É, não é quieta, mas a de ninguém é calada,
Um poeta é um pobre, jamais uma estrela.
E quando o poeta ver que não vai mais escrever,
Ele verá que no final isso não fez diferença.
Há afinal muita coisa melhor para se fazer,
Coisas úteis no mundo, coisas que trazem esperança.
Coisas que podem sair do papel e do computador,
Coisas concretas, que ajudam e aliviam a dor.
Coisas que não são inúteis como uma poesia.
Poeta, seu tolo, faz o belo a si mesmo,
Ninguém o lê e ninguém o vê, ninguém gosta de você,
Forçam crianças a conhecerem a sua arte
E depois disso elas nunca mais vão ler você.
O mundo lírico não é real, você não é um Mozard,
Você não é DaVinci, você não é um Newton.
Você não é Jesus, Einstein, Chico Xavier,
Pasquale, Elvis, Silvio Santos, DiCaprio,
Papa Francisco, Super-Homem, Walt Disney,
Bill Gates, Abraham Lincoln, Schwarzenegger,
Sr. Incrível, Buda, Noé, Chuck Norris.
Você não é nada. É só uma pessoa escrevendo.
Não fez nada para o mundo, não é melhor que ninguém.
Você é só um babaca sofrendo
Que tem orgulho da poesia e quer que soframos também.
Poesia. Que coisa mais vulgar, Poesia.
Uma arte ridícula que não quer dizer nada.
Poesia, poesia. O vácuo no sangue.
Em meu último suspiro,
Eu direi com todas as minhas forças,
Eu amo a poesia.
15/2/2016