A TUA JANELA
Retratos recortados pela saudade
e trazidos à tona,
vozes misturadas e ouvidas com avidez,
pedaços de histórias
nos volteios da memória,
e os contornos misturando-se pela impossibilidade
de construir com exatidão as formas do passado !
E eu tocando com suavidade o teu rosto
que se revela e some, que se perde já,
no ir e vir das impossibilidades, será?
Agora ouço o vento que sempre sopra
ao leste, para lá das esquinas da vida
e danço a sua música ...
Agora que espreito tua janela
assim muito de longe e sei
que respiras ainda, que ainda te comove
a vida que dizes não querer viver,
eu sei que ainda te tocam palavras
que eu poderia dizer até o nosso fim,
mesmo que só por breves instantes.
E estaríamos tão unidos, sendo apenas,
no simples tocar de mãos...
Eu espreito tua janela e posso ouvir que respiras,
que ainda te movem as histórias
longínquas de outras terras, outros viveres.
Olha, vê como aqui permaneço e espero,
do mesmo jeito que a terra árida pressente a chuva
em águas torrenciais, e persiste, tão
quieta, numa ânsia contida de terra
calejada e paciente.
E sei que a bênção dessas chuvas sempre
me toca a cabeça suavemente,
me olha com ternura e até sorri.
Assim é você em sua mansidão
nascida de onde, de tantas agruras,
nascida de histórias sem fim de vida
e espero , sim, espero, sou silêncio
de madrugada em vigílias
no teu encalço!