O País dos Ideais
As ruas imundas abarrotadas de gente
Meros detalhes de decoração estragando a arquitetura
Um projeto tão bem ensaiado
Uma construção com paredes de segregação
O garoto negro que vende balas no semáforo ao sol de meio dia é um super heroi
Tem o poder de tornar-se invisível...
Aquela mulher violada é, com certeza, extremista
Olha esse batom! Que puta... tava pedindo.
Que ser desprezível
O país inteiro vai mal
Também, pudera, esses pobres sugam tudo
O cidadão de bem que paga a conta
Mas não aquelas sonegadas
Nem com aquele dinheiro do banco na suíça...
O garoto negro foi morto naquela operação policial
Com certeza era bandido
Do contrário, o que faria abordando os carros naquele semáforo em pleno domingo?
A moça foi espancada pelo namorado
Com certeza mereceu
Deve tê-lo desonrado
E que homem seria ele pra aguentar desaforo de mulher calado?
E assim tá tudo certo
A novela mostra o padrão de vida perfeito
A mídia, o País das Maravilhas...
Não há desigualdade
Eles te dão o discurso da meritocracia
Discursam sobre a família tradicional
Numa tradição de preconceitos
Fazem cultos no congresso do estado laico
Aprovam leis com embasamento religioso
Mas só se a religião for a deles
A de outrem é invocação ao mal
São eles os homens de bem...
Me contaram sobre a liberdade, privando-a
Comentaram acerca da democracia, reprimindo-a
Ouvi falar em vitimismo...