Fotografia
FOTOGRAFIA – 09/01/2016
Felipe Vieira
Faz um tempo
Encontrei um velho conhecido
Era um boêmio
Que dizia e pensava que sua boemia era a mais importante
A mais digna e ética das aventuras noturnas
Dava-lhe o nome de liberdade
Já eu pensava em solidão
E esbarrava na esquina
Com a moça alegre e bonita
que pousava na praça junto às suas primas
concorrendo em graça com as pombas
o melhor lugar por uma foto
Mal sabe ela o mostruário de borboletas mortas que sua máquina compunha
O silêncio da poesia
É a morte lenta do olho
Alguma enfermidade contagiosa em nossos dias
Que nos faz piscar seiscentas vezes por hora
Esperando que os outros vejam o que eu não vi
Desse modo
Lá se vai o cão de rua pela praça
Onde a moça inocentemente dava
Próxima à lixeira imunda
Um sorriso forçado de uma vagabunda
E nesse imenso calor que a foto não registra
O cheiro do vômito
Aquela noite exala
Visualizo sem nem mesmo curtir a página
O mal estar da civilização