Semente
nossa tristeza
é uma tristeza do corpo
consciente dos limites.
nossa tristeza
é uma verdade
incapaz de se alastrar
como gostaria.
nossa tristeza é uma verdade
que se pudesse
seria uma peste
corroendo as folhagens das gentes
que aprenderam a ser flor.
nosso peso é uma verdade
incapaz de se expandir
para o lado de fora
embora aqui dentro exista
a semente maior,
origem das raízes
que dançam para todos os lados
em ramificações sensíveis.
é bem verdade que
embora aqui dentro exista
a origem dos circuitos, dos movimentos,
das raízes-veias desbravando nossos silêncios ---
como se fossem riscos de luz
na escuridão do nosso lado de dentro ---
nossa tristeza ainda é querer expandir
o corpo, queremos ir além,
além da liberdade do sangue
oculto sob a terra da pele.
queremos ir além da liquidez,
além dos ritmos, além do tempo,
queremos alastrar a nossa carne pelo chão,
decorar os campos com nossos cabelos e
sentir nossas entranhas
infinitamente úmidas e vermelhas
cuidadosamente aradas e entrelaçadas
nas mãos de um deus pagão...