No templo dos silêncios

caminho pelo templo dos silêncios

confrontada pelos olhares dos deuses

ofendidos com meus passos

sonoros e descompassados;

mesmo que eu me ajoelhe

ou caminhe curvada

sinto na carne olhos insones

exaustos de me ver passar.

caminho pelo templo dos silêncios

desculpando-me pelo peso

de minha carne de mármore.

ali, encontro familiares,

corvos sérios, felinos, pilares.

eles sabem que sigo pensando

sobre como somos imensos,

pesados e cinzentos

como um fardo.

sempre que venho no templo dos silêncios

deixam-me entrar

sabendo que meus passos estão

cada vez mais me fincando no chão

como um pilar.

em breve, serei eu também um ímpeto

que irá me fixar nalgum lugar

dentro do templo dos silêncios.

em breve serei eu também

um pedaço de mármore lascado

moldado pela ira dos deuses;

em breve serei eu também

um pedaço de vazios frios, um receptáculo

de olhares e suspiros; em breve serei eu

uma solidão branca de tanto breu,

uma resistência ao tempo,

um monumento.