A carta

Há sete dias...

D'angustiantes tristes noites espero-lhe...

E agora aqui está ela em minhas frias e trêmulas mãos...

Pálida como marfim...

E nela negras letras rabiscadas...

Palavras entrelaçadas por'entre as linhas vorazmente desvirgenadas...

Das quais receio-me não resistir

Mas o que será pior?

A angústia da desilusão?!

Ou a inesperada súbita realidade?

E o latente medo se apossa de mim...

Como uma entidade a me possuir...

Sem clemência e sem demora...

Meu espírito se agarra à mim...

Em inocente súplice protetiva...

Como que prevendo seu fim!

Deixando-me lento...

E estático, pois o fim é tudo o que não posso suportar

Mas enfim...

Começo pelo início...

Prelúdio d'meu desespero...

E descubro que nela...

Contém mais sentimentos...

Do que jamais imaginei que pudesse haver

É difícil sentir tanta vida...

Tanta percussão implodindo...

A arquitetura d'meus sentimentos contidos no peito...

Tanto amor...

Tanta morte e dor...

Em um só pequenino papel...

Antes de tão ínfimo valor!

E não viver...

Se padecer...

Respirar tais sensações...

Torna-se algo impossível!

Posso ver tuas mãos nervosas...

trêmulas ...

A segurar tal coisa...

Pelos amassados das bordas...

E ouvir teu pranto...

Através das marcas deixadas por tuas lágrimas...

A engilhar o papel...

E sentir teu doce cheiro...

Pelo perfume impregnado.

Quem me dera tivesse eu, em minha nuca a ponta da espada...

Ou em minha garganta,

O fio da navalha...

Ou a minha fronte tão perto...

A ponte e não tão distante...

O precipício...

Ao mundo dos legionários decaídos...

Que este momento tão atribulado.