Retrato

Na folhinha pendurada na parede

o ano era 1982

e o mês em evidência

esse mesmo fevereiro

de outros carnavais.

Trinta e quatro anos

que não cabem no relógio

preso ao pulso daquela vida

prorrogada nos herdeiros

das lembranças

que pousaram no retrato.

No cabelo,

a tinta escondia os fios de prata,

outrora d'ouro,

qual a gargantilha do pescoço,

que, por gentileza,

carregava ao colo a letra G.

Na mão,

preso à ponta dos dedos,

a prova cabal,

a desbancar o tempo,

de que a justa medida

é a das pequenas alegrias:

um pedaço de queijo fresco

que, levado à língua,

produziu o sabor daquele sorriso

acompanhado de ollhos pueris

que revelaram a felicidade

em um flagrante memorável.