Na sala, o senhor sentava,
Contava histórias antigas,
O tempo que passara,
As coisas que havia vivido.
 
Aos olhos dos jovens,
Invenções da memória falha,
Nada que o senhor dizia,
De fato, havia acontecido.
 
Ao fundo a velha senhora
Cantarolava cantigas de ontem,
Não lhe passava na cabeça
As músicas dos dias de hoje.
 
Os jovens não curtiam,
Diziam, “que coisa mais velha”!
Mas a velha não se importava,
Cantava a sua alegria.
 
O velho puxava a cadeira,
Fez por outra tomava posição,
Como se estivesse
Montado em um alazão.
 
Na parede, em branco e preto,
Fotografias do ciclo temporal,
O velho de calças curtas,
Os jovens de calças jeans.
 
O chão era de assoalho,
Madeira fina de antigamente,
As janelas, pinho de riga,
Coisas que não existem mais.
 
A velha foi para a cozinha
Preparar o famoso cozido,
O velho afirmava
Que a receita era de sua mãe.
 
A mesa com tantos lugares,
Alguns vagos, dos que partiram,
Mas unidos, todos sentaram,
Para saborear o cozido.
 
O velho, na cabeceira,
A velha, ao seu lado,
Do lado direito,
Os jovens,
Aleatoriamente...
 
Os pratos, já desgastados,
Garfos nas mãos
E facas ausentes.
Guardanapos,
O próprio pano da mesa.
 
Sem faltar o vinho tinto,
Garrafão de cinco litros,
O velho, de noventa e três,
A velha, oitenta e sete,
Aos goles fartos se embriagavam.
Os jovens não bebiam,
Tomavam...
 
O crucifixo no prego,
Jesus que tudo vê,
Já não via mais nada
Com tanta poeira acumulada.
 
Os jovens não rezavam,
Os velhos agradeciam.
 
 
 
MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE
Enviado por MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE em 04/02/2016
Código do texto: T5533839
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