POESIA DE CARNE E OSSO
POESIA DE CARNE E OSSO
BETO MACHADO
A minha poesia não escorre pelos dedos,
Nem molha com chorumes lacrimais
As pautas do meu caderno.
Mas mergulho meu pensar
Nas profundezas de um poço,
Donde extraio tanto a carne, quanto o osso
Que formatam minha verve e o meu poetizar,
De um jeito que não domino,
De um jeito que não tem par.
Minha poesia tem o olor da montanha.
A verde e tropical floresta
Que, aos pulmões, inda me resta
E os olhos muito me encanta.
Sou urbano das flores das onze horas,
Das samambaias choronas,
Dos cravos, das margaridas.
Sou rural do lilás das quaresmeiras,
Dos cipós, das trepadeiras,
Dos lírios, dos gira-sóis.
Mas sou humano das tristezas,
Das culpas, das esperanças,
Das vinganças, dos destinos,
Das alegrias, da paz,
Do ódio, da tolerância,
Do perdão e do amor.
Por isso sou poeta.