Memória

Os normais buscam desmemoriar-se.

Memórias afetivas. Furtivas. De furta-cor.

Busco minhas memórias. Minhas memórias.

Mas neste lugar as memórias estão despedaçadas.

O que é minha história? E o amor?

E as fadas? Onde estão?

Onde estará meu California Sun e meu Hawaii?

A branca amante norueguesa ou primavera de Holanda...

Meu estar impressionista sem álcool ou maconha

Meu olhar pela janela e contemplar a montanha: este posso.

Minha lição de amor me acompanha

Impregnada, vital, primal e medonha.

Não se salva nem aqui neste quarto.

Na ante-sala destas nossas arquiteturas pobres.

Estas paredes sem reboco

Que subjazem à TV que a todos canaliza.

Pedagogias de jogo de botão

Psicologias de xadrez

Antropologias de nossas fodas na cama.

E esta nova máquina de escrever que tudo permite

Por onde tudo permeia neste monitor.

Apesar dos chips as flores me parecem ainda muito vivas.

Pareço feliz aos outros.

Pareço feliz a mim

Mas não é bom que eu saiba disso

- Pare com isso, idiota.

Felicidade não se nota.

E o assim é assim:

Os aquilos são istos.

E se volto a teclar flores (agora em papel eletrônico)

É objeto de estudo fiel a este novo sim.

Este sim que me sorri

Na harmonia deste outono em Mendes.

Com estas músicas que me assossegam neste headphone.

Flores femininas.

Fêmeas que não sabem que podem ser flores.

Como as pessoas são belas...

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 05/07/2007
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