SANGUE INCÔMODO

Permaneço alumiando o meu velório

as velas acesas cravadas nas mãos

estendido como o tapete

do mau exemplo anunciado, cremacídio

dos projetos de vida, os sonhos

estendidos decoram o ambiente, e se repete

o morto a ousadia do rei deposto

chamando nomes tão esquecidos

que só escavados mostram os ossos,

é porque o chão crispado como os dentes

de um mito adulterado devolve

além das palavras mal ditas

o sangue incômodo de alguém

que não se mira no modelo de bondade

porque os que vencem dominam a cidade

mergulhando os dentes na carne dos ingênuos,

certos de que os olhos encantados

desfazem-se em cinzas sobre os planos feitos