O POEMA
Nasci em noite escura, sem luar,
Arremedo de algo que caiu de um sonho,
Resquício de juízo tentando ser sentido.
Estive acordado, tentando despertar,
As células, palavras desejando um nascer,
Corri paralelamente à languidez de uma noite mal-dormida,
Procurando ser ouvido.
As minhas hastes, minhas ventosas, minhas partes,
Tentando ser a arte, iluminando a madrugada,
Querendo ser a estrela, o luar, a nuvem cálida,
Agarrando-me às fibras da fronha
Qual pesadelo frouxo,
Tentava chegar à pena
Que me faria nascer e ser eterno...
Ah, eu quis falar do céu, jogaram-me no inferno,
Ninguém me ouviu, pois o sono venceu-me,
E de manhã bem cedo, alguém de mim se esqueceu...
-Nada sou, jamais nasci, ninguém me ouviu,
Ou me escreveu...
Palavra morta, semente abortada que não viu a luz do dia,
Não fui poesia, memória ou verso, sequer uma elegia!
Quem sabe, eu reencarne na próxima noite,
Ou meu fantasma volte a assombrar-te!
Desejo-te a insônia,
Poeta maldito,
Quem sabe...