Morada

Sabe, habito um lugar discreto,

Onde desaguam minhas incertezas.

Habito um lugar sem teto

Onde jogo num baú minhas friezas.

Tem cheiro de pó de lua,

Sem número, numa esquina sem rua.

Tem brisa com gosto de permanência,

Mas o que sustenta a casa é a ausência.

Não há mais paredes.

— Derrubei todas —

Estendo entre as árvores as redes.

É casa sem endereço.

Nela, moram eu e os outros.

Hospitalidade essa sem preço,

Onde nos chamam de loucos.

Minha morada não tem dono,

É cercada por um riacho de solidões,

E nos meus olhos moram as cachoeiras,

Que desaguam lágrimas no chão.

É aperto no peito e vontade de ficar.

É coração desfeito e tristeza no ar.

E na morada descansa meu leito.

Minha morada tem nome: saudade.

Para todos os gostos e todos os jeitos.

Minha morada é um lugar sem vaidade.

É nela que eu moro,

Mas só morro

Quando fizer de minha alma, minha própria morada.

Anna Julia Dannala
Enviado por Anna Julia Dannala em 01/02/2016
Reeditado em 14/03/2016
Código do texto: T5529618
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.