Um animal azul selvagem

Um animal azul selvagem

com vento correndo o corpo

entre florestas úmidas,

subsolos e profundezas

de oceanos...

Estranha a alma na terra

ser tocada no escuro pelo som da voz

e iluminada ao sol

pelos gemidos da manhã.

Um animal azul selvagem

sem máscara

sem persona

diante de si

por detrás do olho

por dentro da forma

fora do tempo e,

no instante mesmo,

penetrado nele

no estranhamento

de estarem juntos corpo e alma

diante da porta

ante o céu

na beleza que há

na existência dentro e fora de si...

o outro,

a flama que chama

e inflama

a vida e a morte

o gozo e o deleite

e todas as variações do azul,

sagradas,

para além dos olhos,

do lusco-fusco à aurora

quando,

no cântico dos cânticos,

até a chuva brota dos olhos

para, descendo o rio azul,

trazer à terra

repouso e silêncio.