No fim… o que não escrevi…

 

Mora em mim um outro eu

Uma imensidão de eu's

Cada um deles, um eu pleno,

Um poeta, um trabalhador,

Um amigo, um escritor

Um outro poeta, um marido

Um egoísta, um umbigo…

 

Eu próprio um amontoado de eu's,

Um homicida, um suicida,

Matando, sequestrando cada eu…

 

Quantas vezes?

Quantas vezes me fecho em mim?

Infligindo-me o sofrimento de ser apenas eu,

Ausentando de mim, todos os outros eu que sou…

 

Sou, sem nunca ter sido

o reflexo de eu próprio,

ou o reflexo de outro qualquer

nem nas tontas palavras que escrevo

(sim essas devassas a que chamam poesia.)

 

Não, as minhas não são como as tuas,

Perfeitas em si próprias,

Não Régio, as tuas sim poema,

- "Sou como um grito de alarme

Sobre as tuas sonolências.

Preencho as tuas ausências

Com a presença de Deus...”

Indigno de ser um mero teu aprendiz,

Como ousas do além, chamar-me petiz?

 

Ninguém me ouve

Não falo, não grito

Não leio o que escrevo

Por vergonha, por medo,

Quem me escutaria?

 

Abro e fecho as portas da memória

Das palavras sem historia,

Dos desejos, dos beijos, dos amores,

Dos ricos, dos mares, dos pobres,

Das meras palavras ilusoriamente

Escritas por uma retorcida mente,

Num qualquer eu agora presente!

 

Mas eu, na imensidão dos muitos eu's,

Não sou Pessoa, não sou Vicente,

Sou um ninguém, calado, gente…

 

Não sou verdade,

Não sou mentira,

Não sou intriga,

Sou apenas saudade,

Das palavras que ainda

Vagueiam na mente,

As quais, nunca escrevi…

 

Alberto Cuddel
Enviado por Alberto Cuddel em 31/01/2016
Código do texto: T5528636
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