No fim… o que não escrevi…
Mora em mim um outro eu
Uma imensidão de eu's
Cada um deles, um eu pleno,
Um poeta, um trabalhador,
Um amigo, um escritor
Um outro poeta, um marido
Um egoísta, um umbigo…
Eu próprio um amontoado de eu's,
Um homicida, um suicida,
Matando, sequestrando cada eu…
Quantas vezes?
Quantas vezes me fecho em mim?
Infligindo-me o sofrimento de ser apenas eu,
Ausentando de mim, todos os outros eu que sou…
Sou, sem nunca ter sido
o reflexo de eu próprio,
ou o reflexo de outro qualquer
nem nas tontas palavras que escrevo
(sim essas devassas a que chamam poesia.)
Não, as minhas não são como as tuas,
Perfeitas em si próprias,
Não Régio, as tuas sim poema,
- "Sou como um grito de alarme
Sobre as tuas sonolências.
Preencho as tuas ausências
Com a presença de Deus...”
Indigno de ser um mero teu aprendiz,
Como ousas do além, chamar-me petiz?
Ninguém me ouve
Não falo, não grito
Não leio o que escrevo
Por vergonha, por medo,
Quem me escutaria?
Abro e fecho as portas da memória
Das palavras sem historia,
Dos desejos, dos beijos, dos amores,
Dos ricos, dos mares, dos pobres,
Das meras palavras ilusoriamente
Escritas por uma retorcida mente,
Num qualquer eu agora presente!
Mas eu, na imensidão dos muitos eu's,
Não sou Pessoa, não sou Vicente,
Sou um ninguém, calado, gente…
Não sou verdade,
Não sou mentira,
Não sou intriga,
Sou apenas saudade,
Das palavras que ainda
Vagueiam na mente,
As quais, nunca escrevi…