VELHOS AMIGOS - RIO SÃO FRANCISCO E O VAPOR
Velhos amigos
Vapor e o São Francisco
São dois velhos amigos
Só que um vai e volta
E o outro volta jamais.
No porto uma história
Em cada história uma gente
Com seus costumes e tradição.
Em cada chegada é uma parada!
Em cada saída é uma partida!
Na chegada é o abraço e a emoção
E na saída é o abraço e a despedida.
Vupa, vupa, vapor,
Que transporta as saudades
De quem chega e de quem sai!
Vupa, vupa vapor,
Que transporta as saudades
De que quem vai e de quem fica.
São os migrantes cheios de esperança
De que um dia possam renascer.
É o turista vislumbrado
Que assiste às maretas do vapor
Tocarem as margens férteis do rio.
No cais, um apito,
E em cada apito, um aviso,
Com soluços e alegrias.
E em cada soluço uma dor
Que se vai com rio e no vapor.
Vupa, vupa vapor,
Que vai levando esperanças
De quem já não as tem!
Vupa, vupa vapor,
Que vem trazendo esperanças
De quem ainda as tem!
No cais uma prece
E em cada prece um lamento
Da romaria ao Conselheiro Santo
Do romeiro ao tormento
Que do leito o rio corre a passo lento
Cheio de mistério e emoção!
É o barranqueiro contente
Com a tradição de sua gente,
É o vapor cortando o sertão.
Vupa, vupa vapor,
Com a rima de suas pás
Ao tocarem as águas do rio,
Vupa, vupa vapor,
São as músicas do chuá
Das águas do rio.
Em cada terreno há uma margem
E, em cada margem uma cidade
Que cresce ao seu falar.
Em cada barragem que se faz
É gente que sempre sai!
E em cada barranco que se chega
É um povoado a fundar!
E a cada verso do poeta
É uma carranca a fabricar!
Se no altar do morro
As promessas são fanáticas
Nos cabarés das cidades
As mulheres mais frenéticas.
E o vapor e o São Francisco
Vão registrando tudo isso
Em versos de vai e vem.
Jota Kameral
15/04/1978