Todo dia tem Noturno!

Ouço Noturno, nem ouço Chopin.

A alma sai do corpo e passeia

por entre a melodias das notas,

sagradas notas feitas por um homem, quase um deus.

O dia apenas começa

e o instante, ainda molhado do banho recente, abre a manhã.

A mesa posta. Começa a pressa:

Um, dois, três...tantos ônibus, meus deus,

tanta agonia apenas para criar mais um dia.

Tanta gente louca pelas ruas barulhentas.

Não me lembro de ter almoçado.

Ando no compasso descompassado do dia,

e quando o sol começa a se esconder,

pressinto na memória a poesia, a melodia, a tardinha.

Logo mais terei Chopin como alforria,

e em Noturno, único anjo a abafar minha euforia,

a falsa paz que ainda desejo, cheio de medos,

porque até para dormir preciso acautelar-me.