O espetáculo dos bastidores
O manobrar de um ônibus
O talhar de um pão
O fornecer o troco
E o ceder de uma informação
Não são tão reconhecidos
Como deveriam ser
Mais se refletíssemos sobre a nobreza desses trabalhos
Dúvidas não íamos ter
O recolher do lixo
A limpeza do lar
Sem esses personagens
Como iríamos nos organizar?
A prosa do taxista
A oferta do camelô
Que esmiúçam um sorriso
Com todo o seu humor
O educar os filhos
Que colaboração
Profissão mais digna
Creio, não existir não
Ressignificando os valores
De cada atuação
Coisas que o sistema distorce
E não dá a devida valorização
Déspotas existem
Vangloriam o seu pseudo-poder
Com total tirania
Achando este o seu dever
É o ego tomando conta
Da sua visão
Não permitindo enxergar o outro
Na mesma proporção
Os acobertados com altos cargos, nem se fala
São apetrechos de enfeitar
Se realmente não estiverem a serviço do todo
Nas ações a praticar
Na existência, não há pirâmides
Não há nada a hierarquizar
Somos maltrapilhos feitos de carne
Meros animais a pensar
A vida é uma barganha mútua
Estamos sempre a comunar
Favores e gentilezas
Aonde quer que vá
Sobre o espetáculo dos bastidores
São esses que fazem a vida acontecer
E por detrás das reais intenções
Reconhecemos e honramos cada gesto genuíno de cada "ser" ...