AOS FILHOS QUE NUNCA TIVE

Filhinhos do meu coração

Lamento por não os ter tido

Não pensem que o papai não os quis

Pelo contrário, simplesmente tive medo

Medo de tudo e de todo o processo

Que é gerar e educar um ou muitos alguéns.

Me pego a pensar em como seriam

O que pensariam, como agiriam

Se se chamariam Julia, Bernardo

Maria, Enzo, Lívia ou Eduardo.

Que pessoas se tornariam no dia a dia

Se nós dividiríamos as paixões

Comuns a pais e filhos,

Assim como as desavenças.

Será que me ouviriam?

Pediriam a bênção?

Seríamos amigos ou inimigos?

Imagino portas e mais portas

De possibilidades desenfreadas

Poderia ser eu um militar durão

Ou um pamonha, pangaré e bobão?

Saberia eu ser doce e azedo

Na medida certa e eficaz sem ser neutro?

A vocês filhinhos que nunca tive

Além das minhas covardes dúvidas

E insuficientes desculpas lavadas

Deixo o amor nesta poesia profética

E a explicação derradeira e nada convincente

“Não os tive por temer não ser um bom pai

preferi resguardar aquilo (vocês) que nunca existiu

do mau ser que sou.”