Sopro

estes foram longos tempos de observação,

as noites,

os sopros cáusticos das ruas,

os pequenos feixes de luz penetrando pelas frestas das janelas e

os contornos que a luz desenha no escuro.

há uma janela feita de bordas de luz em meu quarto.

em algum lugar certamente existe alguma

teoria para o fato de eu relacionar isso

com o abrir dos seus olhos,

em algum lugar existe alguém que ainda

passe o tempo observando o súbito

contorno que a luz desenha no escuro,

esperando pela tormenta dos gestos,

esperando pelos buracos no chão,

esperando pelo caos num sorriso e o

o estrago que isso faz numa mente sã.

é o que chamamos lobotomia,

o que chamamos devaneio ou

sonho.

a nostalgia, esta armadilha;

sorrir no escuro a escutar a trilha

favorita,

a remoer saudades do que não se fez.