COMPANHEIRA

O que digo de mim será sempre suspeito, contudo, quando falo dos homens eu falo direito.

O meu delito escondo no peito.

A minha dor divido com outros.

Culpo o mundo;

Culpo a rua;

Culpo o cachorro do vizinho ou o radio ligado na outra casa.

Ah, se o mundo fosse só meu!

Ah, se todas as mulheres fossem só minhas!

Ah, se eu soubesse quem sou eu!

Sou uma flecha atirada no tempo.

Uma probabilidade de vida.

Sou a chegada, sou a partida.

Uma risada, uma triste cantiga.

Ontem vi o sol deitar-se cansado no horizonte quieto.

Ontem vi meu pais trabalharem muito para terem pouco.

Ontem me deram lições de vida.

- A sobrevivência é tudo!

- A carne da fera não pode faltar!

Mas as flores vestem o mundo quando há sonhos.

Todo homem deve sonhar.

Toda alma precisa amar.

Toda carne transgride, mas, aprende.

São meus pensamentos ventos que o mundo espalha.

Sou eu um ser de ferro e palha.

Um espantalho da gula e da soberba do outro.

Ah, se eu vivesse só.

Ah, se um solitário ganhasse o salário da fama.

Ah, se no mundo coubesse somente a minha trama.

Mas, minha alma clama pelos dedos finos, e pelas mãos de lã molhada.

Mas, minha alma reclama pela dama que se deita em minha cama.

Mas, meu coração insatisfeito encolhe os beiços no sofá da sala.

O silêncio me mata sem minha outra parte.

A quietude me dá impaciência no vazio da casa sem ela.

Bela criatura da terra; bela companheira de todas as horas.

A contradição é sua amiga.

Ela é como eu; ela é fluída, é líquido como nós.

Evapora no tempo como vós.

Escorre pelo ralo como água.

Andamos juntos, mesmo, quando não nos conhecemos.

Ela é o implícito dos meus ditos.

É minha amiga; Cinderela, bruxa do reino, gordinha, magrinha, branquinha, pretinha, amarela...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 25/01/2016
Reeditado em 08/07/2016
Código do texto: T5522651
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