Sobre flores e pássaros esmagados

Sob meus passos infrequentes,

um pássaro emerge

esmagado pela brutalidade:

máquinas, impetuosidades, gentes.

O pássaro, outrora

lapsos ritmados de leveza

tornou-se apenas

matéria de calafrios.

Mas ainda carrega a realeza

de quem voou alto,

sonhou alto,

cantou alto.

Sentiu fortalezas no céu

e risos no asfalto.

O pássaro me lembra

as asas, as mazelas e

os passados

dos que voam perto de mim.

Eu os abraço;

mas meu regaço não é de ferro

como gaiolas.

Meu regaço não tem cadeados.

Meu regaço é das penas que vi caírem,

rodopiando nos espaços do vento.

Meu regaço é dos abraços,

dos silêncios...

Um pouco além das calçadas

uma pena descansa;

é o fim da dança

do pássaro esmagado.

Tal qual gentes e flores

deixou pedaços pelo chão;

sangue, penas, pétalas, nãos.

Um pouco além das árvores,

um buquê de flores em solidão

deteriora-se com o tempo de securas.

Exausto, decora as proximidades

do pássaro esmagado.

Decora as calçadas

num funeral inesperado.