Escola Estúpida

Eu nunca precisei ser o melhor aluno da turma

Pra conseguir notar que minha escola era estúpida.

Não sei todas eram assim, mas a minha eu sei que era,

E não posso dizer que há esperanças. Para mim, já era.

Eu me formei em uma escola de segundo grau com técnico.

Etec, em São Paulo, de renome em todo o estado.

Mas em nome da verdade hoje eu aqui escrevo e peco,

Tirei de lá três diplomas. Um deles de um curso abandonado.

Pode ser ingratidão dizer isso na cara lavada

Mas o curso, eu falo mesmo, não valia de nada.

Nessa escola havia sim professores bem capacitados,

E apesar do descaso a estrutura tinha lá seu bom estado.

A direção e os docentes eram de fato bem decentes,

O problema era mesmo o discente descente.

Professores bobos tiveram suas pernas passadas,

Talvez de propósito porque a coisa toda já tava zoada,

Os alunos salafraios fizeram da razão uma piada

Eu queria descer do carro mas só pude com a turma formada.

Assisti e reassisti aos meus colegas sem sentido algum,

Formei-me com desgosto, não fui amigo de um.

Tinha o Ação Jovem, projeto destinado a alunos pobres,

Declararam logo que todos poderiam entrar nessa,

Todo mês oitenta dilmas frescas caindo nos cofres

De alunos de iphone que frequentavam festas.

Mentir na cara dura e trazer assinaturas dos pais,

Comer bem do Chiquinho, mentir não foi nada de mais.

Por três anos não vi uma alma sequer questionar

Que aquilo estava errado e que precisava parar.

Nas aulas de ética o que eu mais sentia

Era ânsia de vômito quando um colega consentia.

Formaram alunos tontos que não sabiam a matéria,

Tontos que nem colando se safaram da nota vermelha.

Depois veio aquela desculpa troxa boa e velha,

"O govero quer que passe até o cão e a cadela."

Na prova é a festa de papelzinho e conversa,

O professor notava mas também entrava na peça.

Eu via aquilo tudo por trás, eles me tiravam a paz.

Formei sem nunca colar mas ver já não aguentava mais.

A cagada que fizeram no banheiro feminino,

Para punir as vadias da escola, foi apenas o mínimo!

Na semana da água da veterana professora Neuzinha

O bebedouro pingava, gotinha por gotinha.

Falei com a diretora e com a professora sobre aquilo

E até me formar precisei puxar eu mesmo o botaozinho.

Água perdida e ninguém ali via,

Deixavam sempre pingando sem nunca parar para olhar,

Quando chegou o cara do Sabesp eu pensei que melhoraria

Mas ele foi embora depois de só falar, falar, falar.

Até hoje eu sei que aquilo deve estar pingando

E não estou mais lá para ficar consertando.

Fui fazer com orgulho um curso técnico mais sério,

Mas descobri o que hoje queria que ainda fosse um mistério.

Alunos adultos e maduros colando nas provas pelas notas,

Eu no meio de tudo aquilo, por não colar fiquei feito idiota.

Abandonei o curso desiludido sem nem fazer o TCC

E mesmo assim me deram o diploma, "Aqui, pra você."

Sou agora um técnico em segurança do trabalho,

Mas escola, francamente, você não pode me fazer de otário.

Não serei o corrompido que fica feliz com uma conquista

Que foi, no mínimo, completamente desmerecida.

Alunos, meus colegas, e professores superiores,

Papéis fazem currículo mas não os fazem sabidos.

Ouvi tanto falar de nota e vi tanto ser deixado para trás,

Assisti calado, crescendo, aprendendo do mundo mais e mais.

Agora, coleguinha, quer copiar minha tarefa de geografia?

Peça a outro, seu tonto, eu não vou te ajudar nessa.

Você é um fracassado que não sabe nada, vai, confessa!

Para de ter medo de admitir os seus defeitos.

Eu por não ter medo vou contar aqui um segredo:

Passei em geografia sem ter feito uma tarefa.

Eu nunca precisei ser o melhor aluno da turma

Pra conseguir notar que minha escola era estúpida.

Pois em três anos lá só reclamaram de computadores e estrutura.

24/1/2016