PARA ALÉM DO DESENCANTO HÁ BELEZA
deixo-me estar,
aqui sozinho
deixo-me estar,
em companhia de tudo aquilo que me é digno de fartura
deixo-me estar,
aturdido de rancor e ódio
deixo-me estar,
vasculhando lixo a procura da dignidade
deixo-me estar,
ouvindo repetidos cantos que calejam os ouvidos
deixo-me estar,
iludido pela história de vida sofrida
deixo-me estar,
à vista de todos que desejam emergir da promiscuidade
deixo-me estar,
a procura de um rumo, que o toma, sem rumo
deixo-me estar,
sorridente diante tudo aquilo que machuca
deixo-me estar,
enfurecido feito cão na coleira
deixo-me estar,
choramingando rios feito as cachoeiras
e quando tudo estiver perdido
deixo-me estar,
a procura de meus copos sujos
a procura de meus discos banidos
para me servir de nova dose
pois tudo que considero já venceu, menos o vinho.