<IA>Ao vento assobio

Ao vento assobio

Pra cada olho há um olho,

pra cada olhar um juízo,

numa só sentença, o impreciso

milhões de interpretações...

Além de mim, mau poeta,

só quem sabe decifrar

o meu lato entremeio,

é quem, em mim, morre em segredo;

e em meio aos meus versos tortos,

vê e lê em suas entrelinhas,

metáforas de sentimentos...

e é a ti e é por ti

que, sem nenhum sofrimento,

os meus infernos assobio...

Às faces que não se velam

mas que se alteram em altares;

ao fogo que é forjado,

aos truques e às farsas,

às falsas confissões,

pecados não incógnitos

e ao que é vão, descartável,

sem mantos, eu assobio...

Enquanto em esconderijos

se esboça um sorriso

e força-se o siso, no cio

que de dissimulado,

a si mata e a outro morre...

a esse rio que não corre

e nem às pedras dão o limo,

à vida em desperdício,

em meu canto assobio...

Assobio,

aos vícios em que me desligo

aos toques que não alcanço,

ao que não tem equilíbrio,

na espera em que me canso,

nos sonhos que não encruzilho ...

E ao que da vida filtro

ou que destilo em preguiça,

ao que se enguiça e não vivo,

ao tempo que me dá as costas

em descarte dou-lhe asas

e silencio em respostas

ao que não me é reciproco...

o meu crer não me faz cego

e aos fardos que em mim carrego,

ao teu deus-ego assobio.