Gaiola de papel
a mesma rua deserta
o mesmo sino a meia-noite
as mesmas prosas
sobre uma mesma dor
de parto, tola e factual
nela a seringa
de fuga túrgida
medrosa, gaiola
de papel
teu calcanhar perambulante
a espinha dorsal na testa
Neruda na janela espera por ela
chove um enxame de você
calo a boca das palavras
e alimento-me de paixão
a língua puta de um beijo
roubado em pixels iridescentes
indecentes amassos nos armários
da casa ao lado de tua resistência
onde perambulas com o calcanhar
despojado de verdades supremas