MADURAR

Comi a pera do tempo

amarga

travosa

mas cheia de verdades

como aquela sem idade

raivosa

a que diz que tudo tem um fim

a que traz cinco nãos para um sim

colhi tangerinas de dor

ardidas

fibrosas

mas suculentas a ponto de afogar

o que dói mais do que não respirar?

feridas?

cirroses?

a dor que vem de antes da concepção

a dor que diz que dói por antecipação

plantei carambolas de paz

raras

vistosas

tão sensíveis quanto cristal

nem para o mel nem para o sal

caras

prosas

que se melindram longe do pé

que de súbito amargam feito café

pisei uvas de fúria

rubras

vaidosas

e o vinho parido foi sangue ilibado

tão logo nasceu e foi derramado

turbas

ruidosas

todos os olhos voltados para o soldado

todos os dedos apontados para o lado errado

quero agora tâmaras de Deus

certas

cheirosas

que me adocem a língua travada de quartzo

que me saciem a fome de repouso e matzo

abertas

gloriosas

aquelas colhidas na seara de Cristo

aquelas cujo bolor jamais será visto

cesar marsari
Enviado por cesar marsari em 20/01/2016
Código do texto: T5517479
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