MADURAR
Comi a pera do tempo
amarga
travosa
mas cheia de verdades
como aquela sem idade
raivosa
a que diz que tudo tem um fim
a que traz cinco nãos para um sim
colhi tangerinas de dor
ardidas
fibrosas
mas suculentas a ponto de afogar
o que dói mais do que não respirar?
feridas?
cirroses?
a dor que vem de antes da concepção
a dor que diz que dói por antecipação
plantei carambolas de paz
raras
vistosas
tão sensíveis quanto cristal
nem para o mel nem para o sal
caras
prosas
que se melindram longe do pé
que de súbito amargam feito café
pisei uvas de fúria
rubras
vaidosas
e o vinho parido foi sangue ilibado
tão logo nasceu e foi derramado
turbas
ruidosas
todos os olhos voltados para o soldado
todos os dedos apontados para o lado errado
quero agora tâmaras de Deus
certas
cheirosas
que me adocem a língua travada de quartzo
que me saciem a fome de repouso e matzo
abertas
gloriosas
aquelas colhidas na seara de Cristo
aquelas cujo bolor jamais será visto