Poema em seis partes
I
Não me parece muito apropriado para a idade
este drama adolescente
O que quero desta minha tristeza
é chorar profundamente e escorrer pelas paredes
Quero assim porque acho teatral
Minha história não foi ser presidente do grêmio,
nem representante de classe
Já quis ser artista
Acho frustração em não ser o centro do mundo
por isso fico aqui
adulando tristeza
Acho bonito!
Pudesse choraria em público
esta tragédia que é fim da minha crise dos vinte anos
Tenho este recalque pelo qual zelo muito
ele dá bom efeito em poesia
Se perguntam digo que não guardo rancor
Não porque não guarde
O que tenho é uma peraltice e
quando sinto raiva é por pirraça,
para levantar bandeira,
porque
como vejo a vida hoje, meu entendimento é:
não há tempo!
Isto me preocupa, e considero normal que me aprisione
II
Gosto de escrever, sem passatempo.
Tivera um encontro com Deus,
perguntaria a origem da palavra
O verbo me seduz muito
Quando meus dedos põem vida no papel branco
sinto sorvendo esta substância
Ai! – grito
Como quero viver!
Tem hora que penso que terminei poema,
e nem uso rima - por pretensão -
Se perguntam, falo que não tenho a habilidade
A verdade é que sou superior
Minha superioridade adquiri não sei quando nem onde
Ruim é quando duvido
Fico procurando menoridade numa câmara dentro dos olhos (acho líquido)
e paro de escrever
III
É quando paro de trabalhar para tomar um xícara de café,
de súbito,
me dou conta: estou adulto
O luto é tremendo
Sinto toda a raiva essencial de perder meus direitos de criança
Tivesse a liberdade abdicaria do sexo e dinheiro
porque prefiro minhas letras doces,
porém,
hoje como vejo esta situação,
sei que o tempo vai desgastando a gente com lixa grossa
e não me prefiro aplainado.
Isso me carcome em inquietação
Assim, em agitação não quero Deus
nem paz messiânica
Quero é abismo,
salto mortal
(por precaução, peço perdão na heresia),
pois o que me conforma não é um fim,
mas, a ausência
IV
Porque tenho direito, quero respostas
Exijo!
Outro dia mesmo esperneei no mercado
Verídico!
Esta parte de mim, que é mais inteiro do que parte,
é tudo que tenho
é como me integro e
me entrego a esta ancestralidade,
este desejo de nem sei o quê
V
Viver me incomoda muito
Não quero morte, no entanto,
disso que digo: meu mal é não saber
Quando não sei, sofro
É um desajuste só
Possível fosse, seria ignorante, até indigente
para não saber
Talvez fosse esta minha salvação
Não sendo, porque não é e ponto,
fico aqui ressignificando palavra para ninguém mais que a
MIM
VI
Lavro um texto feito este,
meio solerte e um pouco enigmático,
sem qualidade literária. Um
regurgito desesperançoso
Porque meu maior problema é a angústia,
é este olhar no espelho e não enxergar reflexo inteligível
Quero parar de escrever
e nem sequer consigo
Por vias de um lamento,
porque agora quero me sentir bem,
chamo meu poema prosaico de salmo
porque isso me consola um tiquinho
Comparo minha sisudez a tarimba de Davi
Isso mesmo, o bíblico
Meu sonho continua sendo de grandeza,
mal geracional,
um que não atingirei quantas forem as laudas de palavras desconexas e poemas com rabos longos
Doravante, porque sinto enfeitar este epílogo,
sem paz de espírito
e ainda desconsolado,
também porque não quero fazer sucumbir
um potencial leitor,
termino
AQUI.