CÃES



Sabemos para onde vão os cães,
Ouvíamos seus uivos noite adentro
E à margem das aldeias em receios
O arfar da fera sôfrega na treva
Chegando na espiral de longa espera.
Era ainda dia e fomos prevenidos –
O vento permitia à canção triste
A estrada bem cuidada do iludido.
 
Sabemos para onde vão os cães,
Que marcha de coturnos alemães
Inspira mais horror que as patas nuas
Tomando cada praça, beco e rua?
Ingênuos, desdenhamos os avisos
Festejando à avenida das promessas
Porvir que nunca veio nem virá,
Nem se erguerá de esmolas nas calçadas.
 
Sabemos para onde vão os cães,
Mas preferíamos não sabê-lo, enfim.
Importa estar alheio e não pensar
Nos uivos já bem próximos em volta,
Nos vultos junto à porta – que faremos? –
No feio esgar que ameaça o estar aqui.
Indiferentes rumo a irredutível
Destino, é sem remorso que gememos.
 
Sabemos para onde vão os cães,
E o norte dessas rondas finda em rubros,
Notícia do que foi e será de novo
E em sucessivos ciclos de declínio
Do orgulho que talvez jamais tivemos.
Sabemos que se vão e voltarão
Como antes já fizeram, seus ganidos
Ferindo a tessitura desse então.




 
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 19/01/2016
Reeditado em 28/02/2016
Código do texto: T5516507
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