E assim vamos vivendo V

entrelaçando as mãos

simples e suaves

cingindo a brisa e assim vamos vivendo

que trouxe

os benjoins e as verbenas

as horas amenas

a sede de completude

as brumas

a vontade de chorar

o poema indizível

o farol a nos mostrar o caminho

antes que o barco inscreva os sóis

na curva opalescente do horizonte

antes que se esqueça a rota e o porquê da viagem

momento a momento

navegando no mar sob a chuva

que cai de repente

da beirada do precipício incerto

da onde os medos e as miragens

lançam enganos

melancolia, dores e gritos

tendo de volta o silêncio

entre tantos quereres aflitos

onde espraiam-se-se as lembranças

de uma vida que se esconde da vida

uma vida que nunca existiu

pendoada de sonhos e gestos

de tantos carinhos incertos

de imperecíveis afetos

de um só acalanto

de um só canto

que até os olhos possam ouvir

leve

muito leve

sem razão aparente

a noite cai

inconsútil

e surge lentamente como miragem

e fuligem

como um manto escuro e sem formas

como um doce poema sem normas

depois da tarde

quando o tempo já foi embora

e a lua dorme amarela dentro dos vales,

dentro de escuros mares de vidro

nos labirintos das ruas

nas platibandas

nos ares

e assim vamos vivendo