"Amigo"

O amigo, à balde ligou-me outro dia...

Pedindo o trouco do que jamais pagou-me...

Pediu-me também o perdão d'um inexistente rancor...

Beijou-me a gosto o rosto com a boca em que jamais tocou-me...

E'meio fone, orelha e o supetão d'sua ligação...

Surpreendentemente queixou-se...

De não ter o endereço...

Do recíproco amigo desconhecido...

Sorrindo, lembrou-me ainda d'brincadeiras...

Que quando crianças brincávamos...

Sem sua presença, e agora sem minha lembrança...

Totalmente desatinado, coloquei-me a questionar-me...

Este amigo existe?!

O telefone tocou?!

Minha mãe gerou-me?!

És minha mãe, tua mãe?!

Mas dói-me a dor, ávido ao fatal...

Fere-me a ferida aberta no peito...

Tal desilusão que trespassa-me a alma em densa tristeza...

D'uma decepção, que nem sei se realmente existiu...

E agora o óbvio!

Única verdade a não questionar!