CLT
"segunda-feira..."
sussurou a ossatura farta
enquanto a boca muda
sorvia o fraco café de Marta
naquela manhã de sol
onde entre o mar e o anzol
jazia o coração capturado
de um Mercúrio amputado...
"segunda-feira..."
mostrava a folhinha atrás da porta
aqueles números todos pulsando
e, agora que a Inês é morta,
o que fazer senão dizer amém
à condição de permanecer ninguém
batendo o ponto às sete em ponto
quase morto, coisificado e um pouco tonto
segunda-feira
todo dia era segunda-feira
todo dia era dia de náusea
essa cortesã costumeira
que desconecta o corpo da rebelião
fazendo do caso algo sem solução
a sirene no portão
nova convocação
segunda-feira
algoz do domingo exausto
poucas horas desde a saideira
e a sensação de ser Fausto
a alma não vendida mas alugada
o despertar em plena madrugada
a ida
e a vinda