Meus Olhos Castanhos

É tanta coisa que eu vejo em um mundo que está quebrado

Que devagar eu começo a pensar que sou eu o tolo errado,

Os super-heróis já não citam as regras que um dia nos deram e

Nós já não seguimos as regras que nossas bússulas nos passaram,

Veja, os macacos riem e dançam tanto das bananas apodrecidas

Que se esquecem eles mesmos de suas cabeças raspadas.

Eles estão na base do universo jogando tanto cocô uns nos outros

Que de pouco a pouco os já macacos se tornam porcos.

Animais. Criaturas. Monstros cegos que me encoleiram,

Estou preso em um mundo onde tudo e todos me desprezam.

Grito louco de fora da caverna pelos nomes que lá dançam

Mas riem da minha cara preocupados com o que os ídolos cantam.

Pessoas! Pessoas! Pessoas! Macacos! Porcos!

Grito tanto por eles mas pelos ídolos eles que estão roucos.

Loucos. Ou louco eu? Tontos. Ou tonto eu?

Quem não grita para o ídolo é um cidadão que se perdeu?

Minha coleira maldita liga meu pescoço aos dos deles,

Tento serrá-la com os dentes mas estou aprisionado a eles.

Vejo as minhas pernas e não sei se são pelos de macaco ou de homem,

Olho a comida que devoramos e não sei se é isso o que homens comem.

A tremenda solidão cerca minha alma e meu coração,

Acorrenta os meus braços e cega ou abre os meus olhos.

Nunca sei, nunca sinto, nunca sou mais do que retalhos

que se perderam no Bendito e viram que isso é uma maldição.

Cure-me da puridão. Cure-me desta visão. Embebeda-me, ilusão,

Torne-me um porco. Torne a mim também um porco.

Torne-me um porco antes que eu me torne um homem louco.

Os meus olhos castanhos não querem ver mais deste mundo.

Eles estão cansados. O mundo está chovendo no molhado.

Entediado. Louco. Porco. Macaco louco. Mate-me agora

ou me acorde em outra hora.

Em um tempo melhor, em uma era de olhos,

Em uma era com menos sentidos falhos.

Pois hoje os meus olhos castanhos

se perderam dos caminhos

e agora os meus passos

são todos passos sozinhos.

Tento encontrar um macaco perdido por aí

que veja que eu também enlouqueci,

Mas todos os que vejo estão mais enlouquecidos

E não notam nem que os valores estão desaparecidos.

Valores que desesperados jamais existiram.

Criados em fantasias, os fantasiosos se iludiram.

Super-heróis falsos pregando utopias,

Antigos impotentes pregando filosofias,

Honras que os adultos devem cumprir,

Lições que as crianças devem seguir,

Pelo bem da utopia.

Ou… topos…

No meio da guerra de cocô eu me abaixo na tentativa de me proteger

Mas me acertam e me acertam e eu começo a feder.

Pelos crescem, dentes se afiam, eu já não sou mais eu,

A criança inocente que fui se perdeu.

Encontrou-se em uma realidade apocalíptica,

Não sabe aonde vai e nem por que não fica.

A qual destino o destino irá me levar?

Quem nesse mundo eu um dia irei amar?

Quantos nesse mundo eu chegarei a matar?

Beirando à insanidade em uma guerra de cocô,

Cada vez mais eu me vejo menos homem e mais macaco,

Os meus braços peludos e a mente limitando-se

Pela sobrevivência minha cabeça emburrecedo-se.

Isso… isso… isso!… isso!

Era isso o que eu queria, sim! Bem isso!

Juntar-me à família de macacos, isso!

Processo devagar mas sempre constante.

Alienação que não para por um instante.

Acelere! Vamos, acelere! EU PRECISO SER MACACO LOGO!

Mas o quê?… o processo está se revertendo?

Mas que diabos! O que foi agora? Qual é o problema?

Ah, eu já sei. Fiz de novo um poema.

16/1/2016