Lamento

Eu não pertenço a meu tempo:

Sou um anacronismo amorfo,

Traduzo-me a uma hipérbole do tempo;

Escondo o meu verdadeiro eu,

Atrás de eufemismos baratos

E alguns goles de cachaça.

Já não me sinto neste mundo.

O mundo está sujo,

Eu estou imundo.

Quero a brisa dos poetas loucos;

O amor das mulheres à espera de suas amantes;

O vento leve pela manhã;

O regozijo das crianças ao brincarem

Na sua infinita inocência .

Que nasça uma rosa em meu peito:

Como aquela que superou o nojo e o tédio.

Canta minha musa!

Estais a dormir?

Sou um verme a esconder-me dos raios de sol.

Alimento-me do húmus podre da humanidade.

Entro pelos caminhos mais estreitos do homem e o sugo;

Sinto o gosto de sua mesquinhez;

O desnudo de toda sua moral;

Rasgo seu terno burocrático;

E o deixo aos parasitas:

Que, como eu, apenas

Estão atrás de carne morta.

Ernesto Gomes
Enviado por Ernesto Gomes em 15/01/2016
Reeditado em 16/10/2018
Código do texto: T5511433
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