Lamento
Eu não pertenço a meu tempo:
Sou um anacronismo amorfo,
Traduzo-me a uma hipérbole do tempo;
Escondo o meu verdadeiro eu,
Atrás de eufemismos baratos
E alguns goles de cachaça.
Já não me sinto neste mundo.
O mundo está sujo,
Eu estou imundo.
Quero a brisa dos poetas loucos;
O amor das mulheres à espera de suas amantes;
O vento leve pela manhã;
O regozijo das crianças ao brincarem
Na sua infinita inocência .
Que nasça uma rosa em meu peito:
Como aquela que superou o nojo e o tédio.
Canta minha musa!
Estais a dormir?
Sou um verme a esconder-me dos raios de sol.
Alimento-me do húmus podre da humanidade.
Entro pelos caminhos mais estreitos do homem e o sugo;
Sinto o gosto de sua mesquinhez;
O desnudo de toda sua moral;
Rasgo seu terno burocrático;
E o deixo aos parasitas:
Que, como eu, apenas
Estão atrás de carne morta.