JOGO DOIDO

Quem sabe o quanto de mim ficou nas estradas

buscando o destino nos motéis e a porta que nunca se abre?

Dispo as cores no olhar e carrego nos passos o caos

moendo as nuvens petrificadas

da solidão sem fim, sem fim,

enfim, a motocicleta de ossos da morte

me leva pelos jardins de um paraíso corrompido

onde anjos de pedra

gritam socorros anteriores à invenção das línguas

meu amor,

sim, eu poderia caminhar léguas

onde não houvesse viv’alma

levando uma solidão só não maior

por haver limites no planeta

Em outros tempos

feiticeiros ocultos na pele dos colibris

faziam escravas as flores mais belas da flora

flores brotadas nas ancas das potrancas

nestes tempos

a imundice dos pavões é feita de joias

como estrelas desabam nas esquinas

queimando os segredos dos espiões e dos piratas

homens jogam no lixo o passado solitário

rolando o fogo das melodias

no deleite das festas

sobrevivendo ao jogo doido

do ter

pra ter que dividir

o ser que anima o sustentar

derramando o delírio passarinhado

estradovário