Feira

Deu de ir à feira

porque os olhos

careciam muito

daquele festival de cores

que há no poema ambulante

das bancas de frutas.

Mas não dava caso da fruição de sentidos

a convite do ambiente:

o amarelo vivo da casca do melão

dançava tango com melancias abertas,

tingindo de amor uma cama

de mangas maduras

em harmonia com o corpo

que se sentia a própria pera

em suculência.

Escolhia mamão

atestando a vida

que há nas mãos,

enquanto ouvia o barulho

da maçã levada à boca

em mordidas leves

que impunham sabor

ao alcance da língua.

Tocou com as pontas dos dedos

a escultura dos morangos

ao som do vento dos coqueiros

quando caiu em si

que a feira inteira

era um mar de desejo.