Gramática da ilusão

De mim, daquilo que pode dizer a palavra,

leio-me nas superfícies que refletem.

Mas, não me detenho muito nos reflexos!

Se olho de perto, vejo os demônios

por trás da íris,

sangue debaixo das unhas.

Conheço-me animal

eviscerando desejos,

porque escrevo com tinta egoística

ao que dissimulo minhas faces mais humanas.

Quando criança, Narciso, me conheci dono do mundo.

Hoje sou menos que grão,

não menor,

sou cosmo infinitesimal,

em caos maximalista.

Permanece em mim um apetite existencial, força anterior,

e também uma vontade intrépida

de sabotar o que queria fosse.

Se me anulo da essência,

se reproduzo o mundo na ponta dos dedos,

e o faço,

é porque estou androide,

portanto,

dormente -

animado apenas pela física.

No entanto, quando vem fortes as palavras desconfio:

ainda trisca a fagulha

no corpo oco:

sei que a arte é messiânica.

Fernando Béca
Enviado por Fernando Béca em 10/01/2016
Reeditado em 10/01/2016
Código do texto: T5506020
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