Gramática da ilusão
De mim, daquilo que pode dizer a palavra,
leio-me nas superfícies que refletem.
Mas, não me detenho muito nos reflexos!
Se olho de perto, vejo os demônios
por trás da íris,
sangue debaixo das unhas.
Conheço-me animal
eviscerando desejos,
porque escrevo com tinta egoística
ao que dissimulo minhas faces mais humanas.
Quando criança, Narciso, me conheci dono do mundo.
Hoje sou menos que grão,
não menor,
sou cosmo infinitesimal,
em caos maximalista.
Permanece em mim um apetite existencial, força anterior,
e também uma vontade intrépida
de sabotar o que queria fosse.
Se me anulo da essência,
se reproduzo o mundo na ponta dos dedos,
e o faço,
é porque estou androide,
portanto,
dormente -
animado apenas pela física.
No entanto, quando vem fortes as palavras desconfio:
ainda trisca a fagulha
no corpo oco:
sei que a arte é messiânica.