Imbróglio
Naquele momento, não poderia dizer nada
Naquele momento não havia clareza
Nas entrelinhas, nossas pernas bambas
Um desequilíbrio
Uma rosa cheia de espinhos.
Naquele momento, senti a secura dos teus lábios
E o sal das lágrimas dos teus olhos
As nossas músicas, agora mero ruído
Um desconforto sólido.
As rachaduras nas paredes anunciavam
A ruína do nosso edifício
A encher de pó todas as nossas lembranças.
Naquele momento, estava tudo cinza.
A luz, envergonhada
De brilhar na cena da nossa morte
Recolheu-se, resignada
Tal a amargura de nossa ferida.
Naquele momento, não poderia dizer nada
Qualquer palavra pareceria tão pérfida
Qualquer gesto, de natureza mórbida
E então te senti, como nunca antes
Envoltos os dois naquele grande imbróglio
Naquele momento, restara só o exílio.