E assim vamos vivendo I

E assim vamos vivendo

a repercutir velhas histórias

conspirar novos espantos

conhecer o mundo sem tocá-lo

sentar-se à beira do abismo

calcular a queda de antemão

e ir se acostumando e se aferrando

a pensar antes que nos pensem

Deslindando o enigma,

refazendo e desdizendo o discurso,

esperando a incognoscível espera,

arrostando o destino,

tudo é o mesmo passo palmilhando

e escorregando nas terras depois das chuvas

Mares adormecidos dentro do azul

de transparências quebradas

Esquivos tempos

demasiadamente dispersos

Vida caminhando estradas,

bebendo a poeira esquecida

sob labaredas de sóis

E assim vamos vivendo

Sob os mistérios

e o nada

que põe a cegueira em nosso olhos

e o sonho

que consola a saudade

e a lágrima de se ter nascido