O peregrino
o vento passa entre as eternidades abertas
tocando os adros de um tempo ecoante
rio dissipando a semovente bruma da aurora
no ar o perfume verde da relva molhada pelo orvalho
e trançado pela ausência calada e infinita dos pássaros
nos caminhos o silêncio insolente e infrangível
apascenta o dia macio
as horas nada sabem do firmamento
o giro incessante inventa o engano do tempo
segredos das palavras encantadas e esquecidas nos lábios
o assombro e o desassombro da vida
e a humildade atenta às verdades
um pássaro recorta a aurora
caminha no céu a última estrela
no rumor solene da metafísica dos astros
árduos e longos podem ser os caminhos
para se voltar ao lar
onde a inocência busca na elisão das flores
na metamorfose das crisálidas
na sapiência eloqüente das pedras
tantas outras possibilidades
sem um tempo inventado
a oprimir e massacrar o ser humano
o peregrino lê nas estrelas exílios e possíveis caminhos
para encandear a vida pela escuridão indefectível
até o inefável lar
não vê horas
vê sois brilhando
mares calcinados
tardes cansadas
reminiscências
figuras percorrendo o céu escuro
astros singrando o firmamento
figuras que a espera e a nódoa silenciam
sem que se diga dos caminhos percorridos
sem que se diga das trilhas pervagantes
que o farfalhar das folhas secas
dizem gravemente e devagar